Foi procurando os títulos em que o jovem Andrew Garfield já atuou no cinema que cheguei ao doce e dolorido drama “Não me abandone jamais” (Never Let me go, ING, 2010), de Mark Romanek. Não procurava o Andrew Garfield prestes a virar astro do novo Homem-Aranha, mas o que me fez torcer pelo “derrotado” Eduardo Saverin de “A Rede Social”. Se você viu o mesmo que eu em sua atuação não pode perder este filme. Na pele do doce, sensível e limitado Tommy, a improvável mistura de fragilidade e atitude de sua atuação elevam o carisma de Garfield um nível acima.
“Não m e abandone jamais” é inspirado em livro de Kazuo Ishiguro, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2017 e mesmo autor de “Resíduos do Dia” – que deu origem ao também inglês e igualmente melancólico “Vestígios do Dia” (Remains of the Day, ING, 1993). A trama acompanha a amizade dos personagens Tommy (Garfield), Ruth (Keira Knightley) e Kathy (Carey Mulligan), iniciada na infância dos três, passada em um internato cheio de disciplinas rígidas quanto à alimentação e à saúde e sem contato nenhum com o mundo exterior.
O pano de fundo é um presente distópico, em que a legalização da engenharia genética enseja anomalias sociais como a de seres humanos criados única e exclusivamente para abastecerem, quando adultos, a indústria de órgãos humanos. Ou seja, eles crescem sabendo que estão destinados a terem seus órgãos retirados cirurgicamente, um a um, até morrerem.
O conhecimento precoce dessa cruel realidade precipita a formação de um triângulo amoroso entre os protagonistas. Quando chegam à iminência de cumprirem seus destinos, os três jovens tentam desesperadamente fugir a ele e, no processo, um amor é restaurado, uma culpa redimida, mas muitas ilusões e esperanças acabam perdidas.
Tento não usar a palavra tristeza para o filme, já que meu irremediável romantismo tende a supervalorizar o amor em detrimento do drama, mas não há como evitar. A história é irremediavelmente melancólica, mas também linda porque sobre amor.
Ainda assim, é para os fortes!