Se você considerar separadamente cada traço do inglês Richard Armitage – os lábios muito finos para o tamanho da arcada (levemente recuada em relação ao queixo meio pontudo), o nariz grande e mal desenhado e os olhos fundos – concordará que ele também não se encaixa no padrão masculino de beleza do cinema.
Mas assista-o utilizando este conjunto na interpretação de uma cena de grande emoção (como a que postei ao final deste texto, por exemplo). O olhos azuis claros adquirem uma intensidade de agulha, os músculos da face se contraem à mercê da expressão e a boca articula com ferocidade e determinação. E a voz…
Ahhhh, a voz de Richard Armitage…! Como no caso de Matthew MacFadyen, é seu grande trunfo, com a diferença de que Armitage é muuuuito melhor ator. A ira de seus personagens dá medo, bem como sua tristeza desperta vontade de niná-lo ou sua expressão amorosa faz derreter. Por este motivo não entendo o porquê de sua carreira continuar restrita à TV inglesa, onde até recentemente ele arrancava suspiros no papel de Guy of Gisborne, do seriado “Robin Hood”.
No “The Internet Movie Database” – o banco de dados mais completo sobre o mundo do entretenimento na rede – consta que ele emenda um trabalho em outro na TV desde 1999, sempre em episódios de minisséries ou seriados. Não encontrei nenhum longa metragem em sua cinematografia, mas o registro de experiências anteriores em teatro e musicais explicam a voz forte e sempre bem colocada, o talento interpretativo, a boa linguagem corporal e a grande presença em cena.
Eu o conheci na pele de John Thornton, protagonista de “Norte e Sul”, adaptação em quatro capítulos feita pela BBC de romance homônimo da inglesa Elisabeth Gaskell, cuja obra se assemelha em muitos pontos à de outra inglesa muito filmada pelo cinema ocidental: Jane Austen.
Assisti à série e A-DO-REI! Principalmente, claro, devido à atuação de Armitage. Entendi porque os fãs de Jane Austen estavam defendendo a sua escolha para o papel de Mr. Knightley na adaptação de “Emma” que a BBC rodou em 2009 (volta-e-meia a emissora inglesa programa uma nova adaptação de uma obra da escritora). Mas o escolhido foi mesmo Johnny Lee Miller, o protagonista da série “Eli Stone”, da Sony, que já viveu antes um personagem de Austen: foi Edmund na versão para o cinema de “Mansfield Park” (que no Brasil passou com o título de “Palácio das Ilusões”). A Emma de 2009 tem a atuação de Romola Garai, a boazinha Amélia de “Feira de Vaidades” e a Briony adulta de “Desejo e Reparação”.