“Olha as vozes de Ribeirão, que lindas! Eu acho legal o negócio do backing [vocal] (…) que é uma coisa que as meninas fazem naturalmente, é a praia delas. Mas os rapaaazes… ah, a solidariedade dos rapazes na hora do backing me mata!” (risos).
Com este comentário, feito com sua voz rouca e lânguida ao fim do primeiro “bis” de seu show em Ribeirão Preto, Marisa Monte deu o golpe de misericórdia na plateia, que já acompanhava totalmente entregue sua performance no palco do Centro de Eventos do RibeirãoShopping no sábado, 26.
Àquela altura, o público assistia aos últimos instantes de “Verdade, Uma Ilusão” de pé, reverente, dançando e cantando junto, mas deixando claro, com as palmas intermitentes, que não estava a fim de ir embora.
Em minha primeira vez vendo Marisa ao vivo, senti-me acompanhada na devoção, não só à voz e ao carisma de uma de nossas maiores intérpretes, mas à magia de que qualquer boa música é capaz: despir homens e mulheres de preconceitos e converter as energias individuais de cada um em uma só vibração harmônica.
O fato de homens afinarem a voz para o backing vocal e mulheres atirarem gritos de “maravilhosa” ao palco, sem medo de julgamentos alheios, mostra do que é possível uma boa música. Interpretada por uma Marisa Monte, então…
A produção do show que divulga seu último álbum – “O que você quer saber de verdade” – não tem aquela pirotecnia tecnológica de que muitos artistas têm lançado mão ultimamente para justificar a saída de seus fãs de casa.
Os recursos de produção são simples: basicamente projeções – de textos poéticos, de obras de artistas plásticos brasileiros, de imagens de coisas e gente – extrapolando os limites do palco ou apenas luzes mudando a cor de fundo do cenário.
Na interpretação de “ECT”, por exemplo – que ganhou um arranjo “matador”-, ora palavras isoladas, ora trechos de músicas e poesias envolviam o palco e se ampliavam para as paredes laterais da área VIP.
Para hipnotizar, Marisa também não precisa fazer incontáveis trocas de roupa – a certa altura só tira o vestido preto que veste sobre outro branco – e nem acompanhar bailarinos profissionais em performances coreográficas, como as divas pop de hoje acham tão necessário. Se simula uns passos solo de bolero em “Depois” é de forma teatral, porque o clima da música o pede. Assim torna clara sua reverência à música e não ao espetáculo.
Musa, simula humildade ao apresentar os músicos que a acompanham: feras do quilate de Dadi (de A Cor do Som, banda do Zé Pretinho, shows de Caetano e por aí vai), do power trio da Nação Zumbi – baterista Pupillo, guitarrista Lúcio Maia e baixista Dengue -, além de Carlos Trilha (teclados e sopros) e o quarteto de cordas com Pedro Mibielli, Glauco Fernandes, Bernardo Fantini e Marcus Ribeiro.
Gera cumplicidade com o público, contando histórias de algumas músicas, como a de “Ainda Bem”, trilha de novela da Globo que ela queria gravada em parceria com a reclusa cantora italiana Mila – acabou cada uma cantando sozinha em seus respectivos discos.
Na hora de “A Sua”, a sala fica toda escura e só a intérprete recebe sobre o corpo um jato de luzinhas simulando estrelas, que também escapam para uma faixa do fundo do palco.
Pura poesia visual!
A mágica funciona por todo o setlist, que incluiu ainda “O Que Você Quer Saber de Verdade”, “Descalço no Parque”, “Arrepio”, “Ilusión”, “Amar Alguém”, “Diariamente”, “Infinito Particular”, “De Mais Ninguém”, “Beija Eu”, “Eu Sei“.
Ao fim de 1h30 de enlevo, resta uma verdade que não tem nada de ilusão: showzaço!
2 comentários
E certo que ela encantou a audiencia. Ela tambem parecia bem confortavel com a resposta.
Assino embaixo cada palavra, sensação e reverência! Showzaço!