Definitivamente, o cineasta Christopher Nolan é o meu herói! Não assisti a um filme escrito e dirigido por ele que não fosse um primor de engenharia narrativa e um baita desafio à capacidade de raciocínio do espectador. Vejam, por exemplo, “Amnésia“, sobre um homem com perda de memória recente que sai à caça dos responsáveis pelo assassinato da mulher. Para lembrar seus objetivos, ele tatua mensagens para si mesmo no próprio corpo. Sensacional o expediente de filmar a história de trás para frente, para dar ao espectador a mesma sensação que tem o personagem ao “acordar”, a cada 15 minutos, em uma situação estranha sem ter absolutamente nenhuma memória de como foi parar nela.
Achei que, após sua série Batman, não havia como o diretor e roteirista elevar ainda mais o nível de seu trabalho até assistir “A Origem”. No filme, Leonardo DiCaprio interpreta um expert na invasão de subconscientes durante o sono para extrair segredos valiosos. Exilado por ser considerado um criminoso nos Estados Unidos, ele aceita a proposta de fazer o que ninguém em seu ramo conseguiu antes: “implantar” – a “Inception” (inserção) do título original – uma ideia no subconsciente de um herdeiro milionário, em troca de retornar livre para seu país e sua família.
Nolan arquiteta um roteiro tão engenhoso que precisei rever o filme para entender todas as partes. A ficção que ele constrói nas viagens pelos sonhos dos personagens é perfeitamente coerente nas alusões ao funcionamento do subconsciente humano. O diretor consegue costurar este jogo de simbolismos à história de um homem atormentado por um fantasma de seu inconsciente, que busca desesperadamente expiação, perdão e “voltar para casa”. Ainda tempera a trama com sequências de ação da melhor qualidade – tudo ao mesmo tempo.
Como se não bastasse, os efeitos especiais de “A Origem” são impecáveis. Em uma sequência de perseguição, por exemplo, dois personagens lutam corpo a corpo em um ambiente que literalmente “rola” em torno de seu próprio eixo devido à ausência de gravidade. Tudo bem que Fred Astaire já havia dançado antes por paredes (PARADAS) na década de 1950, mas os caras lutam por paredes em constante rotação!!! Não consigo nem de longe imaginar o tipo de coreografia de câmeras e cabos que foi necessária para simular tal efeito.
Genial, Nolan, genial!
Aí vem a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e indica “A Origem” em oito categorias do Oscar 2011 – entre elas as merecidíssimas de Melhor Filme e de Melhor Roteiro Original -, mas simplesmente “esquece” de indicar Nolan na de Melhor Diretor.
Lamentável Academia… lamentável!