No sentido horário, John Hughes entre Molly Ringwald e Michael Schoeffling de ‘Gatinhas e Gatões’, com Matthew Broderick de ‘Curtindo a vida adoidado” e Anthony Michael Hall na época de “Mulher Nota 1000”.
O cineasta John Hughes (*18/2/1950 – + 6/8/2020) nunca foi um dos favoritos da crítica especializada, que considerava sua obra oportunista, superficial e comercial demais. É verdade que, depois de descobrir um “filão” no segmento de comédias românticas adolescentes, não abandonou mais a receita, mas – vamos combinar!, bendita receita, que emplacou sucessos até hoje presentes na memória afetiva da geração dos 1980. Estamos falando de “Gatinhas e Gatões” (Sixteen Candles, EUA, 1984, “Mulher Nota 1000”, (Weird Science, EUA, 1985), “Ela Vai Ter Um Bebê” (She’s Having a Baby, EUA, 1988) e os cult “Clube dos cinco” (The Breakfast Clube, EUA, 1985) e “Curtindo a vida adoidado” (Ferris Bueller’s Day Off, EUA, 1986).
Também é verdade, porém, que, mesmo levinhos, seus filmes souberam alcançar o inconsciente coletivo dos jovens da época. Todo garoto sonhava ser Ferris Bueller cantando “Twist and Shout” sobre um carro alegórico, em dia de aula, como na cena clássica de “Curtindo a Vida Adoidado”. E que garota não sonhava ser premiada com a atenção do bonitão da escola exatamente por ser diferente, como a ruivinha Molly Ringwald em “Gatinhas e Gatões”?
O diretor (de jaqueta preta) com o elenco de ‘Clube dos Cinco’
Meu filme preferido de Hughes sempre foi “Clube dos Cinco”, que acompanha o cumprimento de uma manhã de castigo por cinco alunos do Ensino Médio, cada um desajustado a seu modo. Ao longo do filme, eles aprendem a conviver, conciliando suas diferenças em favor de lutarem contra um inimigo comum: o inspetor, que simboliza a autoridade contra a qual toda juventude, em qualquer época, precisa se rebelar.
O filme apresentou pela primeira vez alguns dos rostos que marcariam o cinema adolescente do período: além dos já citados Broderick e Ringwald, Judd Nelson, Ally Sheedy, Emilio Estevez e Anthony Michael Hall (muitos deles cairiam no ostracismo a partir da década seguinte). A ruivinha Molly, então, foi a preferida de alguns diretores de comédias adolescentes da época (vide “A Garota de Rosa-Schocking”, “Ligeiramente grávida”, “O Rei da Paquera”). Continuou filmando nas décadas seguintes, mas nunca mais emplacou sucessos tão retumbantes quanto os da adolescência. Suas aparições mais recentes foram em pontas, como na série “Riverdale” e nos filmes “A Barraca do Beijo” (1 e 2), sempre como mãe de alguém.
Judd Nelson e Ally Sheedy filmaram bissextamente ao longo das últimas décadas, a maioria fracassos de bilheteria. A carreira de Emilio Estevez também prosseguiu, como a de Molly, com muito menor visibilidade. Seu pai, o consagrado Martin Sheen, faz mais sucesso que ele e o irmão (Charlie Sheen, de “Two and a half man”) juntos.
Dos cinco do clube, apenas Anthony Michael Hall continuou sendo visto, em filmes e no seriado que protagonizou de 2002 a 2007, “The Dead Zone” (“A Hora da Zona Morta”). De Hughes ele co-protagonizou “Mulher Nota 1000”, uma tremenda bobagem, na qual dois pré-adolescentes nerd criam uma mulher perfeita no computador (a então estonteante Kelly LeBrock, de “A Dama de Vermelho”).
Das estrelas içadas por Hughes, Matthew Broderick foi o que mais se deu bem. Não virou astro de primeira grandeza, mas continuou “aparecendo” em produções de médio porte e fez muitos trabalhos bem-sucedidos no teatro. Ultimamente, a grande mídia o vê mais como o marido de Sarah Jessica Parker (a Carrie de “Sex and the City”).
Hughes dirigiu muito pouco após sua fértil década de 1980, mas continuou no metier como roteirista. Dá para reconhecer seu estilo nas histórias de “A Garota de Rosa-Schocking”, e nos três “Esqueceram de mim”, só para citar os maiores sucessos de bilheteria que assinou. Todos levinhos e previsíveis… mas divertidíssimos!
Para espairecer, até vale revê-los numa Sessão da Tarde regada a muita pipoca.