Eu nunca havia ouvido falar de Chloé Zhao até ela faturar o Globo de Ouro 2021 de Melhor Direção, mas esta chinesa de 38 anos acaba de se tornar minha mais nova diretora de cinema favorita. É que acabo de assistir a “Nomadland”, que Zhao roteirizou, dirigiu e editou, inspirada no livro homônimo da jornalista norte-americana Jessica Bruder, e ainda estou sob o enlevo de sua atmosfera cool e delicada.
Não é um filme para todos, porém, já aviso. Muito menos para o espectador desacostumado a um andamento mais lento (não confundir com arrastado) da narrativa, que neste filme resulta mais visual do que textual – sim, os diálogos são econômicos e só aparentemente banais.
Porque banal é tudo o que “Nomadland” não é, com sua forma muito feminina e emblemática de contar a história de Fern, viúva que após perder emprego e casa devido à falência da maior empregadora de sua cidade, passa a morar numa Van e a viver de empregos temporários. Instigada por uma amiga, Fern experimenta a vida nômade a que muitos norte-americanos são levados pela crise econômica.
A sinopse pode soar algo depressiva para nós, comuns mortais a levarem vidas quadradinhas, mas este seria outro engano. Apesar de ter a crise financeira de 2008 nos EUA como pano de fundo, “Nomadland” não é sobre pobreza; seus personagens estão sempre se despedindo, mas não é sobre perdas; e sua protagonista vive sozinha, mas não é solitária.
“Nomadland” é, sobretudo, sobre liberdade, desapego e estar desperto no momento presente, enxergando as belezas do mundo que nos passam despercebidas quando estamos ocupados demais com nossas ansiedades cotidianas.
Pra provar isso, destaco dois emocionantes mini-monólogos em que as personagens Swankie (idosa que decide passar o tempo que lhe resta de vida viajando em meio à natureza) e Bob (militante que cria uma rede de apoio para os trabalhadores nômades) dão a Fern verdadeiros testemunhos desse olhar livre e desperto. – vocês vão ter que assistir ao filme para conferi-los.
No mais, tenho a dizer que a veterana Frances McDormand segue uma atriz espetacular, que prescinde de caras e bocas para entregar uma interpretação brilhante. Sua Fern equilibra firmeza e doçura, altivez e vulnerabilidade. O resultado é adorável e muito humano.
Grande atriz! Belo filme! Puta diretora!
“I’ll see you down the road, Zhao”.
2 comentários
Adorei a sua análise, bem diferente das que eu vi até agora. Me ganhou, vou ter que ver Nomadland. 🙂
Seu olhar é profundo e faz a gente mergulhar em sua visão, querida amiga Sílvia Pereira.