Primeira incursão pela direção do ator Dustin Hoffman, “O Quarteto” faz o espectador se perguntar por que o eterno “Rain Man” demorou tanto a se aventurar atrás das câmaras. A má notícia é que sua exibição ficará relegada a apenas um horário (22h) em dois dias da próxima semana (terça e quinta) em apenas uma sala do conjunto Cinemark, no Novo Shopping.
Adorável, o filme agradará especialmente a quem aprecia música, cinema e boas interpretações.
Desde a primeira cena ficam claros três aspectos da produção: é um filme de atores, reverente à música e modesto no melhor sentido.
Dá para perceber a generosidade com que Hoffman deixa o elenco brilhar em uma história simples, com produção de baixo orçamento e rodado em locação única – uma mansão inglesa transformada em retiro para músicos aposentados.
A história é ambientada na semana em que a instituição é agitada pelos preparativos da festa anual pelo Aniversário de Verdi – que arrecada a maior parte dos recursos para sua manutenção – e pela chegada de uma nova moradora. Logo descobrimos tratar-se uma ex-estrela da ópera (Maggie Smith, sempre poderosa!), a quem os demais hóspedes recebem com palmas e gritos de “bravo!”. Ao menos um deles, porém, não está nada feliz com sua chegada: o regente Reginald (Tom Courtenay), ex-marido que ainda nutre grande mágoa por ela.
Caberá à doce Cissy (Paulinne Collins) – que convive tão graciosamente quanto possível com os primeiros sintomas do Alzheimer – e ao incorrigível galanteador Wilf (Billy Connoly) atuarem como agentes dessa reconciliação.
Apesar de a idade média do elenco girar em torno dos 70 anos, “O Quarteto” foge ao perfil das últimas produções que enfocam a terceira idade por não colocar ênfase nas dificuldades e dramas desta fase da vida. Sim, as rugas, as bengalas apoiando os problemas físicos e um ou outro comentário sobre envelhecer estão lá, mas, não se enganem… Estamos diante é de um romance leve, temperado por pitadas do delicioso humor inglês e que parece ter simplesmente calhado de ter personagens idosos.
Hoffman parece dizer: “Sim, a vida continua na terceira idade e velhice não anula a capacidade de amar”.
Trilha sonora
A música chega a ser uma personagem à parte em “O Quarteto”. A maioria das cenas é embalada por trechos de óperas, cantadas ou tocadas ao piano.
Uma grata surpresa foi perceber, nos créditos finais, que muitos dos coadjuvantes e figurantes são grandes músicos na vida real. Enquanto sobem os letreiros, suas cenas no filme aparecem congeladas ao lado de suas fotos antigas, identificadas por seus nomes e carreiras no teatro ou em grandes orquestras. A premiada soprano Gwyneth Jones, por exemplo, interpreta uma concorrente de Maggie Smith no filme.