Silvia Pereira Pelegrina

Jornalista com 30 anos de experiência em redações, blogueira de cinema, séries e literatura e desde 2019 trabalhando free lance com produção e edição de conteúdos; Silvia Pereira adora ouvir, ler, assistir e - principalmente - escrever histórias.

Publicações do autor

‘Uma Viagem Extraordinária’

Deve ser maravilhoso viver na cabeça do francês Jean-Pierre Jeunet. Quem já assistiu a “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, “MicMas – Um Plano complicado” eUma Viagem Extraordinária” sabe do que estou falando, pois são filmes que nos fazem sair leves e felizes do cinema.

O primeiro tornou-se um cult e projetou o nome do diretor e co-roteirista – em todos os títulos citados, em parceria com Guillaume Laurant – na história recente do cinema, graças à fotografia vibrante, personagens fora dos padrões, situações completamente improváveis e uma bem vinda fé na humanidade.

Os ingredientes eram inovadores para a época do primeiro filme (2001), mas a repetição deles prova que Jeunet investe na mesma receita – muito particular, é verdade, mas ainda uma receita – há pelo menos três filmes (exceção a “Eterno Amor, de 2004).

Uma Viagem Extraordinária” prova que ela ainda funciona. Impossível não se enternecer com o relato que o menino T. S. Spivet faz do cotidiano de sua família muito peculiar, vivendo em um rancho de Montana.

Um dos três filhos do improvável casal formado por um caubói silencioso e uma cientista verborrágica (Helena Bonham Carter), T. S. é superdotado de inteligência. Seu irmão gêmeo ficou com a parte da força bruta na divisão dos dotes, e a irmã mais velha faz o gênero “típica-adolescente-fútil-rebelde”.

A viagem do título começa por causa de um projeto de máquina de movimento perpétuo de T.S., que acaba escolhido para receber o prêmio Baird, do Museu Smithsonian, em Washington. O garoto não tencionava ir recebê-lo, mas uma tragédia familiar o faz decidir embarcar clandestino em um trem para atravessar o país. No caminho, ele enfrenta a solidão, recebe ajuda de estranhos e, ao chegar a seu destino, aprende mais de uma lição.

Assim como “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, “Uma Viagem Extraordinária” é visualmente bonito e prazeroso de assistir  – “uma gracinha”. Mas, graças à receita já conhecida, suspeito que não terá a mesma longevidade de Amélie Poulain na memória do público.

‘Megamente’ é sensacional!

Quarta à noite, futebol na TV… “programa de índio” pra cinéfilo.

Zapeando pelo limitado menu do meu pacote econômico de canais pagos, estaciono mal conformada no único em que está passando um longa que eu nunca assisti, só para ter um fundo sonoro pra minha navegação na internet.

E não é que uns diálogos muito loucos e originais roubam minha atenção da tela do computador?

Mais correto dizer que o longa de animação “Megamente” me hipnotizou pelos 80 minutos seguintes. Sua história e diálogos impagáveis brincam com muita inteligência com os clichês de filmes de super-heróis.

A subversão já começa pelo argumento, que escolhe um vilão como o protagonista.

Megamente tem este nome por causa do tamanho de sua cabeça, que abriga um cérebro privilegiado, mas que ele usa para tentar conquistar, ao longo de diversas disputas contra o super-herói Metro Man, a cidade de Metro City. “Tentar” porque todos sabemos que o mocinho sempre ganha, certo?

Mas este não é um filme de super-herói comum, por isso, um dia Megamente consegue vencer Metro Man e finalmente domina a cidade.

Após algum tempo, porém, nosso vilão entra em depressão ao perceber que, sem um oponente “do bem” para ocupá-lo, sua vida perdeu o sentido. É quando elabora um modo de criar um outro super-herói com quem possa brigar, mas é claro que nada sai como planejado.

A sinopse nem de longe dá uma ideia do quão divertido resulta o desenrolar dessa história. Os diálogos são pérolas de ironia e auto-tiração-de-sarro do gênero.

Para se ter uma ideia, o “pai espacial” que Megamente cria para orientar o novo super-herói tem a voz e – o topete – de Marlon Brando na pele do pai de Superman, no filme homônimo.

Ah… e a trilha sonora tem sucessos de grandes nomes do rock contemporâneo, como AC/DC, Ozzy Osbourne, Guns’N Roses e outras feras.

Mais cool impossível!

Porque os homens choram

johnny depp chora 1!

Já aviso que esta matéria é imprópria para maiores de 18 anos com alto nível de testosterona, porque o assunto é choro de homens.

Em respeito aos “machões” que continuarem a leitura a partir daqui, vou tentar não me derramar muito ao comentar o trabalho de atores que me emocionaram profundamente em cenas nas quais tiveram de interpretar um bom choro… sem perder a masculinidade. E não me refiro a chorinhos de olhos mareados não, mas àqueles de soluços abundantes.

Começo lembrando uma cena lindíssima de Johnny Deep no filme que dá nome a este post, “Por que choram os homens?“. Na última noite em que seu personagem passa com a amada (Christina Ricci), prestes a embarcar em definitivo para outro continente, ele segura a pose de fortão até ela adormecer em seus braços. Na madrugada, chora copiosamente agarrado a ela. Ai, ai…

Em “Fonte da Vida“, Hugh Jackman (ele mesmo, o Volverine de “X-Men”) surpreende quando seu personagem chora a morte da mulher (Rachel Weisz) a soluços soltos e altos, a câmera em close fechado sobre seu rosto. Foi a primeira vez que notei que, no meio daquela aura de galã com “cara de mau”, esconde-se um bom ator.

Passei a prestar atenção no escocês James McAvoy em “Desejo e Reparação“, particularmente na cena em que ele se despede de Keyra Knightley em um restaurante de Londres, antes de partir para a guerra. Sua atuação é econômica, mas intensa ao simular que tenta segurar o choro, mas fracassa. As lágrimas escorrem abundantes sobre sua expressão de sofrimento.

Ralph fiennes criesO inglês Ralph Fiennes também mostra todo o seu potencial dramático na explosão de dor de seu personagem diante da perda da amada em “O Paciente Inglês“.

Já Mel Gibson está se tornando um especialista no expediente. Chorou sobre a foto da ex-mulher morta, no primeiro “Máquina Mortífera“; quando o filho asmático entrou em choque, em “Sinais“; sobre o túmulo da mulher, em “Coração Valente“; sobre o cadáver de dois filhos, em “O Patriota“; quando achou que o filho sequestrado havia sido morto, em “O Preço de um Resgate“; e, se não me engano, numa cena de “Teoria da Conspiração“. Irregular, sua dramaticidade vai do caricato ao convincente, dependendo do filme.

Al Pacino choraAgora vou falar da cena que considero a top entre as tops no quesito. Desafio qualquer coração de pedra a assistir incólume a Al Pacino dar aquele grito sem voz nos minutos finais de “O Poderoso Chefão 3“, para, em seguida, explodir em um uivo de dor! As lágrimas não foram necessárias…

BRAVO!!!

‘Ela’: hiperconexão (virtual) X desconexão (sentimental)

Ela

“Ela” (Her), filme de Spike Jonze que concorreu ao Oscar 2014, é triste.

E não porque fala de solidão, mas por mostrar uma solidão que já praticamos, um futuro imaginado que já está entre nós, geração hiperconectada que rende-se à preguiça de preferir contatos virtuais a pessoais (é mais fácil!).

Em uma das primeiras cenas, a personagem de Joaquin Phoenix está na rua falando sozinho, ou melhor, com seu sistema operacional, que tem inteligência artificial, voz e nome de mulher – Samantha. Nem todos os espectadores percebem que nesta mesma cena todos em torno dele também “falam sozinhos”, ou seja, com seus dispositivos eletrônicos.

A cena se repete em outros momentos do filme, mas então já percebemos como todos naquele futuro “imaginado” estão alienados, indiferentes aos outros seres humanos em torno, concentrados nas máquinas que lhes ouvem e respondem em qualquer situação.

Theodore (Phoenix) está se divorciando. Interagir com “alguém” criado para responder a todas as suas questões, práticas e sentimentais, parece a solução ideal para tirá-lo do luto pelo final da relação com sua companheira desde a infância.

A ironia é que nenhum amigo acha estranho quando ele admite que está em um relacionamento com um sistema operacional. Uma de suas melhores amigas, também recém-divorciada, confessa que, como ele, passou a se relacionar com o próprio sistema operacional. Daí que levar o computador como companhia a um piquenique de casais torna-se natural. O fato de Samantha tratar-se de uma “pessoa sem corpo” é irrelevante.

Mas onde há inteligência, mesmo que artificial, nada fica igual para sempre. Samantha começa a ir além de seu mundo com Theodore, a buscar satisfação para suas curiosidades e novos questionamentos – eles brotam onde há consciência – na interação com outros sistemas e usuários.

Theodore terá que lidar com uma questão nova para aquela relação, mas tão antiga quanto a história de todas as relações e para a qual a geração hiperconectada às máquinas – e cada vez mais desconectada dos sentimentos – ainda não encontrou: como não ficar só em um mundo no qual todos estão sempre procurando respostas para seus vazios fora de si mesmos?

O filme não tem resposta para isso.

Como disse, triste, triste, triste…

Senhoras e senhores, JARED LETO!

Por ter ouvido muitos conhecidos dizerem que não conheciam Jared Leto, resolvi fazer um breve resumo de sua carreira, que acompanho há anos, desde que sua beleza me chamou a atenção na série adolescente “My So Called Life“ (cancelada por baixa audiência logo após a primeira temporada, em 1995). Foi o primeiro trabalho na TV tanto dele quanto de Claire Danes (também sigo a carreira dela desde então), que hoje faz o maior sucesso em “Homeland”.

A série foi um fracasso (não por falta de qualidade em minha opinião), mas ainda bem que Jared e Claire deram continuidade às suas carreiras – ele arriscando-se mais em papéis difíceis ou pouco carismáticos, como se quisesse provar que tem mais do que beleza (difícil esquecer isso… rs).

Aliás, desviar de papéis fáceis e comerciais é uma das razões de o ator ser pouco conhecido do grande público. Exemplos disso são seus personagens em filmes como o depressivo “Réquiem para um Sonho” ou o hermético “Além da Linha Vermelha“. Também foi o vilão de “O Quarto do Pânico“, o amante do imperador em “Alexandre” e o Babyface de “Clube da Luta” (ele tentando parecer feio com cabelos e sobrancelhas descoloridos… rs).

A segunda razão é que Jared conjuga sua carreira de ator com a de vocalista de uma banda de rock de sucesso, a Thirty Second To Mars, que se apresentou no Brasil no último Lollapalloza – foi eleito campeão de simpatia entre a imprensa brasileira.

Fico feliz que finalmente suas opções nada fáceis de personagens estejam sendo reconhecidas com seu Oscar por “Clube de Compras Dallas”.

Foi merecido!

‘Clube de Compras Dallas’: filme de atores

Clube de Compras Dallas” é um filme de atores. Parece ter sido feito para fazer brilhar Matthew McConaughey, no papel de um machão homofóbico, e Jared Leto, convincente na pele de um travesti.

E eles brilham. Não só porque McConaughey encarou a perda de 20 quilos – assustadoramente magro, está quase irreconhecível no filme – ou porque Leto fica lindo até vestido de mulher. Eles dominam as cenas, apoderam-se com gana dos diálogos secos do submundo pelo qual suas personagens transitam.

Dá prazer assistir a dois atores talentosos pegarem papéis tão espinhosos “pelos chifres”, como os peões na arena de rodeios onde o filme começa.

O Ron Woodroof de McConaughey é politicamente incorreto do começo ao fim – os anti-heróis estão em alta nesta temporada em Hollywood. Eletricista de profissão e trambiqueiro por vocação, ele gosta de tirar vantagem financeira de qualquer situação e mais ainda de “torrar” seus lucros em orgias sexuais regadas a álcool. É como ele provavelmente contraiu o vírus da Aids numa época em que ainda se sabia muito pouco sobre a doença e acreditava-se que seu contágio dava-se, principalmente, através da relação homossexual.

Naqueles anos 1980, o AZT ainda passava por testes médicos e as vitaminas e drogas que viriam a integrar o “coquetel” de tratamento da doença – hoje usado com sucesso – sequer eram aprovados nos Estados Unidos. Woodroof foi encontrá-los em uma clínica clandestina do México, para onde viaja depois que “seca a fonte” de AZT que contrabandeava de testes hospitalares.

Não demorou a passar da preocupação com a própria saúde para a elaboração de um meio de lucrar com a venda desses medicamentos a outros soropositivos. Mal sabia que teria pela frente uma boa briga contra dois “Golias”: a indústria farmacêutica, que começava a assistir seu monopólio ameaçado por aquele “Davi” do submundo, e o próprio governo norte-americano, que passou a considerá-lo contrabandista.

Sem pieguices

É muito sutil a forma como o filme mostra Woodroof mudar da preocupação só com seu lucro para com pessoas morrendo. Mas o roteiro não cai na armadilha fácil de santificá-lo e nem por um minuto apela para o sentimentalismo, mesmo ao tratar de um tema tão nevrálgico quanto a iminência da morte.

Esta não é uma história de dor e sofrimento, mas de sobrevivência, que é a característica, afinal, que se sobressai nos dois principais personagens, mais do que a transformação física, mais do que suas posturas politicamente incorretas.

‘Azul é a cor mais quente’: uma história de amor (e muito sexo) em dois atos

Muito se falou sobre as longas cenas de sexo lésbico em “Azul é a cor mais quente”: que são um libelo pela liberdade sexual, pornografia embalada em filme de arte, voyeurismo e por aí vai.

Esse barulho todo é, ao mesmo tempo, o maior trunfo e a maior fraqueza do filme dirigido pelo tunisiano naturalizado francês Abdellatif Kechiche (“O Segredo do Grão” e “Vênus Negra”). Trunfo porque funciona como marketing e fraqueza porque o impacto causado pelas cenas de sexo “asfixia” os demais aspectos do filme. Ninguém dá importância ao fato de que, por trás de todo o voyeurismo, existe uma história adaptada livremente da graphic novel homônima de Julie Maroh pelo próprio Kechiche.

E ela vem dividida em dois atos, como entrega o título original (“La Vie d’Adèle – Chapitres 1 et 2”): o primeiro mostra a descoberta da sexualidade pela jovem Adèle; o segundo descreve a trajetória de sua relação com Emma.

Adèle sente-se “incompleta” após a primeira transa com um rapaz de sua idade e fica ainda mais confusa quando uma colega lhe rouba um beijo. Quando conhece Emma, liberal e irreverente em seu cabelo azul, entrega-se à paixão.

A cor azul aparece nos cabelos de Emma e também no tom das roupas de Adèle em seu momentos mais cruciais, marcando de descobertas a transições.

A atriz Adèle Exarchopoulos empresta à Adèle do filme uma sensualidade natural, que equilibra com um inacreditável ar de inocência. No primeiro ato, a personagem não tem grandes ambições. Basta-lhe ser professora primária e a dona-de-casa da relação.

Já a Emma de Léa Seydoux é madura, intelectualizada e sustenta discussões cerebrais com seus amigos exuberantes.

O distanciamento desses dois mundos vai se dando gradativa e sutilmente até um episódio mundano precipitar tudo.

É uma história de amor tão legítima como a de qualquer casal – homo ou heterossexual –, mas cuja percepção pode escapar ao espectador que demorar-se demais no choque com as cenas “calientes”. Tente driblar essa armadilha.

‘Como não perder essa mulher’: frescor

Frescor é o adjetivo que me veio à mente após assistir a “Como Não Perder Essa Mulher” (“Don Jon”), em que  Joseph Gordon-Levit (de “500 Dias Sem Ela”e “50%”) atua e dirige. Mas o maior mérito dele foi ter também escrito esta história autêntica sobre um jovem viciado em pornografia que não consegue se satisfazer sexualmente em relacionamentos reais.

O começo engana. Começa transbordando testosterona, com o protagonista Jon descrevendo sua rotina de jovem ítalo-americano católico, bombado e pegador, daqueles que se referem a mulheres como se falassem de gado – com direito a dar nota para as candidatas ao “matadouro”.

Quando ele conhece Barbara (Scarlett Johansson), uma “nota 10” que faz “jogo duro”, começa a abrir exceções em suas regras de solteiro convicto. Afinal, vale tudo para “ganhar” essa mulher.

Você acha que o roteiro está caminhando para aqueles desfechos manjados de “o amor transforma”, mas a história já havia começado a dar sinais sutis de que nada é o que parece – o que era caça vai se revelando caçador – quando, de repente, dá uma guinada.

Claro que não vou estragar a surpresa de quem ainda vai assistir, mas adianto que a outra surpresa do roteiro é revelar-se romântico (a sua maneira muito original) quando parecia que se resumiria a um tratado do macho-comedor (é também, mas não só).

Nessa indústria que vive de histórias-receitas para vender ingressos em larga escala, um roteiro que surpreende é ouro!

Depois de ‘Orgulho e Preconceito’

Sempre lamento a finitude da obra da escritora Jane Austen. Sou uma “caçadora” de produtos dramatúrgicos ou literários com características semelhantes às de sua obra – romances de época, de preferência ambientados na Inglaterra e, com alguma sorte, com aquela agudeza de análise social embutida nos subtextos – seja em que formato for: séries de TV, filmes, livros…

Sempre posso contar para isso com a BBC, que a cada ano inventa uma forma nova de adaptar alguma obra da escritora e a cada temporada lança outros produtos de épocas de origens e autores diversos.

Sua última investida foi “Death Comes to Pemberley” (A Morte Chegou a Pemberley). Sim, coleguinhas austenmaníacos, trata-se da Pemberley de “Orgulho Preconceito”, propriedade onde nossa heroína predileta, Elisabeth (ex-Bennet, agora mrs. Darcy), foi morar com seu amado após se casarem.

A nova série, dividida em apenas três capítulos, encontra nosso casal em feliz idílio doméstico na mansão inglesa, como pais do pequeno Fitzwilliam Darcy 3º. Georgiana, irmã de Darcy – que era uma adolescente à época de “Orgulho e Preconceito” – é uma jovem casadoira na casa dos 20 anos.

A atual Mrs. Darcy está às voltas com a organização do baile anual realizado para a comunidade, mas um incidente sinistro muda todos os planos.

Um crime ocorre na floresta de Pemberley, do qual o único suspeito passa a ser George Wickham – aquele mesmo que casou-se em circunstâncias escandalosas com a irmã de Elisabeth, a louquinha Lydia, que continua tão fútil e chiliquenta quanto sua mãe.

A chegada do casal indesejável – que vinha para o baile mesmo sem convite – detona uma crise na relação de Elisabeth e Darcy, ao mesmo tempo que a investigação de assassinato envolve todos em uma aura de deconfiança e medo.

O elenco é de respeito. A habitué das séries de época da BBC Anna Maxwell Martin é Elisabeth; Matthew Rhys, que conhecemos primeiro como o filho gay de “Brothers and Sisters”, convence como um legítimo (e viril sim) Mr. Darcy, e o ótimo Matthew Goode (“Match Point”e Ïmagine Eu e Você”) é Wickham.

A história é tão envolvente que dá para perdoar não ter sido escrito por Jane.

Adorei, BBC… de novo!

‘Questão de Tempo’: menos é mais

Ao lançar “Questão de Tempo”, o cineasta inglês Richard Curtis anunciou que este será seu último filme como diretor. Uma pena, pois ele escreveu o roteiro de alguns dos títulos mais românticos do passado recente de Hollywood – “O Diário de Bridget Jones”, “Um Lugar Chamado Nothing Hill” e “Cavalo de Guerra” entre eles – e ainda assinou como diretor duas de minhas comédias românticas favoritas: “Quatro Casamentos e Um Funeral” e “Simplesmente Amor”.

Todos esses títulos dão pistas sobre uma pessoa que acredita no amor em todas as suas formas e com uma visão que chega a ser ingênua de tão benevolente.

Em “Questão de Tempo”, ele lança mão de um artifício muito usado em roteiros de cinema da última década, que é a viagem no tempo. O jovem Tim recebe de seu pai, aos 21 anos, a notícia de que é capaz de viajar no tempo dentro de sua própria vida. Diante de uma infinidade de possibilidades, ele decide usar o dom para encontrar o amor. Entre idas e vindas, descobre o que pode e o que não pode, e até o que não deve mudar – em dado momento que “não quer” mudar mais nada.

Suas descobertas são simples. Nada que vá ajudar o espectador a encontrar o sentido da vida ou um remédio para suas relações, razão pela qual, suspeito, a crítica especializada deve rotular a história como banal, simplória ou medíocre.

Para mim não tem nada de banal concluir que, quando se aprende a reagir a tudo que acontece de forma mais leve – o que ocorre quando Tim começa a seguir um certo conselho do pai -, ampliando o contexto para além da circunferência de nosso próprio umbigo, aprendemos também a extrair/enxergar o melhor da vida.