Categoria: PALAVREIRA

Déjà vu (ou ‘Quem sabe isso quer dizer amor… 2 – A Missão’)

Oitavo domingo de quarentena.

Acordo dentro da memória brumosa e morna do “Encontro de porta” com nossos mais novos melhores amigos. Grata pela noite, por olhar do lado e checar o sono fungador do Ma, sentir nossos filhos-gatos esparramados entre nossos pés e pernas, lembrar que é dia de escola Aprendizes do Evangelho e – mais gratificante que tudo – não ter sido acordada pelas dores musculares do meu bruxismo (já disse que a vida sem dor é maravilhosa?).

Obrigo-me a fazer os exercícios passados pelo fisioterapeuta e a comer ao menos uma banana antes de engolir os comprimidos da pressão e de colágeno (já disse como odeio comer e ter que fazer “dever de casa” logo ao acordar?). Minha natureza pede um despertar lento, feito de descanso dos músculos fatigados do bruxismo, pés pra cima na poltrona da sala e cérebro despertando devagar através do olhos, que caçam no celular as primeiras mensagens e manchetes jornalísticas do dia. Mas a virginiana em mim não sabe ignorar um “dever”, sob pena de ficar arrastando uma bola de ferro cheia de culpa pelo resto do dia. Por isso dou meu suspiro de resignação e inicio as primeiras séries na cama mesmo. “Primeiro  o dever, depois o prazer”, disse Daniel Boone em um dos episódios do seriado que assisti na infância – nunca mais esqueci o dito e o levei pra vida (quer mais virginianismo que isso?).

Sento ao computador pra preparar nova postagem no blog, checo mensagens, respondo… e imerjo em meu hiperfoco, que ignora tudo o que é mundo fora da minha cabeça. Registro só com uma parte do cérebro o Ma ligar a TV pra assistir no Youtube as últimas lives de músicos preferidos – outra região dentro da minha mente registrando, satisfeita, a emoção dele ouvindo e vendo seus ídolos musicarem seu domingo. E novamente fico grata.

Termino o trabalho no computador, vou pra cozinha fazer a receita nova de risoto prometida e, de repente, ouço um dedilhar de violão que não soava há  tempos em casa se aproximando pelo corredor. Me invade um déjà vu de todas as vezes em que o Ma sacou do violão pra cantar comigo e pra mim, eu preparando nossa comida, uma tulipa de cerveja dele esquentando em cima de algum móvel e uma taça de vinho minha se esvaziando mais rápido que o recomendado, em meio a legumes e carnes que corto desajeitadamente, com minha coordenação motora de jegue. E, de novo, tudo no mundo parece estar exatamente no lugar que deveria estar.

Pra entender o valor desse déjà vu é preciso saber que o Ma não pegava o violão dentro de casa pra se acompanhar cantando há…  ? … nem sei quanto tempo! Foi parando mais ou menos quando começaram seus lutos – pela morte do pai em 2016, do irmão em 2017, da mãe em 2018 -, cada um jogando dentro dele umas saudades doídas de ver. Ele não falava muito disso – eu respeitava – mas tenho pra mim que rolava um constrangimento inconsciente por ele ainda estar neste mundo, apto a continuar desfrutando de um dos grandes prazeres de sua vida, quando os seres que mais amava já não estavam.

A felicidade fez eu gravar o momento em vídeo, com o celular amoitado no balcão e comigo parecendo uma “Amélia arrependida”, com faixa segurando o cabelo oleoso de cozinheira mal ajambrada. Compartilhei depois nos grupos dos amigos de cantoria e dos vizinhos de porta, brincando que “se eu soubesse que bastava variar o cardápio do almoço pro Ma voltar a fazer serenata na minha cozinha, eu teria começado antes da quarentena”, e rezando pra ele não ralhar comigo.

Não ralhou. Até respondeu com bom humor às brincadeiras surgidas nos grupos. Quis ouvir a gravação mesmo com aquele som de caixa de fósforo do celular, sem saber que dentro do meu peito o coração dava pinotes de felicidade, feito os gatos quando entram no “MODO GREMLIN” aqui em casa.

Meu risoto ficou MARA! O Ma garantiu minha caipirinha e, com a promessa de cuidar da louça suja depois de sua sesta domingo (eu cozinho – ele lava!), foi deitar sem saber que pra mim aquele domingo de quarentena transformou-se no melhor dos últimos quatro anos.

Vou ter que evocar o Lô [Borges] de novo: “’Quem sabe isso quer dizer amor’ 2 – A Missão (de inventar de vez em quando um novo cardápio pra ver se o Ma volta a fazer serenata de cozinha pra mim!)”.

 

LEIA TAMBÉM: Quem sabe isso quer dizer amor (Relatos de uma quarentena)  / Encontro de porta

Encontro de porta

Já escrevi que a quarentena imposta pela pandemia de Covid-19 não tem sido exatamente uma tortura para mim, que cresci com um defeitinho de sociabilidade – cortesia de um Déficit de Atenção responsável por uma tendência de nascença à introspecção. Dito isso, assumo parte da responsabilidade por ter demorado bem uns seis anos para trocar mais do que os comprimentos eventuais à escada com os vizinhos de porta que temos no pequeno condomínio de apartamentos em que vivemos, há quase oito.

Até há um ano e meio atrás, eu sabia de minha vizinha Ana Lígia só que era jornalista como eu, mas estava afastada há algum tempo do metier; e do Matheus, seu marido, que trabalhava com audiovisual e estava no segundo mandato de síndico desde que nos mudamos; além de serem super educados e aparentarem ser “muito boa gente”, etc, etc.

Quando o desemprego chegou para mim, em 2018, Ana já andava às voltas com o desafiador ofício de “mãe de primeira viagem” e uma vontade crescente de voltar ao jornalismo fazendo algo que lhe permitisse trabalhar home office. Como o mercado me encaminhasse também para esta opção, passamos a conversar esporadicamente sobre nossas dúvidas e ideias a respeito, mas sempre en passant, quando nos topávamos na escada ou às portas de nosso apartamento. Da mesma forma, nossos maridos, que sempre simpatizaramum com outro, só batiam papos rápidos quando algum assunto do condomínio forçava um encontro.

Nossas amizades foram crescendo assim, indolentemente alimentadas por conversas rápidas à escada, recados concisos no Whatsapp e raras chamadas de voz para aqueles pedidos tradicionais de vizinhos – “tem uma caixa de Amizade pra me arrumar?”. Nunca pensamos em propor um programa de lazer compartilhado, como um jantar no apê de um ou outro casal e era improvável que isso ocorresse em plena quarentena do coronavírus.

Mas a Ana Lígia surpreendeu, com a encantadora sugestão de compartilharmos algumas horas de isolamento em comum – cada casal na sua porta, com sua cerveja e petisco. Pensamos, eu e Márcio: “Por que não?”. E colocamos as cadeiras nas portas e um carrinho de bebidas no meio do hall de entrada, delimitando a distância mínima de 1 metro de cada lado.

Que HORAS DELICIOSAS de bate-papo tivemos!

Comparamos histórias de vida, confirmamos similaridade de ideias e visões de mundo, trocamos memórias. Sem perceber, liberamos a maior parte do peso de nossos humores, envenenados que vinham pela triste realidade dos noticiários nesses tempos de coronavírus e pelas comunicações violentas praticadas nas redes sociais.

Eu maldisse ali minha introspecção, que adiou por tanto tempo uma interação tão abençoada.

Ao final da noite, quando os papais de primeira viagem se lembraram de que precisavam dormir para acordar junto com o filho madrugador, ainda nos perguntávamos por que foi preciso uma pandemia para nos fazer interagir com tempo e atenção apropriados. Ainda não temos esta resposta, embora vergonhosas hipóteses rondem meu pensamento (preguiça? Individualismo? Indiferença?).

Só sei que fomos dormir mais felizes do que acordamos naquela Sexta-Feira da Paixão e que um novo programa já está pré-marcado para esta semana.

Mas o importante é que “abrimos a porteira”!

Que venham muitas outras confraternizações, ainda que com distância física controlada. A proximidade mais importante é outra.

‘Quem sabe isso quer dizer amor…’ (relato de uma quarentena)

Quase tenho culpa por me sentir tão confortável em isolamento, neste momento grave de ameaça civil. É que pela primeira vez na vida minha tendência natural ao encasulamento está sendo visto como algo desejável e não como um grave defeito.

Explico-me: cresci levando pitos de familiares e amigos por “viver no mundo da lua”. Na adolescência, levava descomposturas de amigas por ser antissocial a ponto de não saber manter as chamadas “small talk”. Era capaz de me refugiar em meus próprios pensamentos mesmo integrando uma roda de conversa, fosse numa festa cheia de gente ou em rodinhas de amigos. Claro que isso me tornava esquisita demais, engraçada de menos e zero interessante! Por isso minha presença chegava a ser expressamente proibida por anfitriões de eventos e programas legais para os quais minhas melhores amigas eram convidadas – coitadas, depois se contorciam em desculpas para justificar seus sumiços e o porquê de não terem me chamado.

Adulta, descobri que tenho déficit de atenção e me esforcei muito para melhorar a partir das lições que as rejeições sociais me ensinaram. Melhorei, sim, mas… quando me mudei de minha cidade natal para trabalhar em outra, ainda era capaz de passar finais de semana inteiros sem colocar o pé fora da porta de casa – minhas horas sozinha eram preenchidas com leituras, sessões de filmes e playlists de músicas favoritas embalando a limpeza da casa ou a preparação da minha comida.

Para mim, não era solidão! Ao contrário, eu me sentia conectada ao mundo através dos noticiários (que nunca deixei de acompanhar) e também a todos os personagens das ficções que eu lia em livros ou assistia em filmes e séries. Ainda gozava uma alegria genuína cantarolando junto músicas que me falam ao coração.

Não por acaso veio a tornar-se meu marido um certo estudante de engenharia – também um talentoso cantor e violonista – que, dias após me conhecer em uma sessão de cantoria, fez-me uma visita surpresa bem no meio de um desses meus fins-de-semana de imersão. Sua “invasão” não me incomodou. Ao contrário, porque ele compartilhou meus prazeres e os tornou ainda mais interessantes.

Dez anos após nos tornarmos um casal, vivemos um período de separação. Voltei à minha antiga tendência de me encasular em casa, entregue a meus passatempos, o que fez uma amiga em comum me dar outro pito: “sai pro mundo, pelo-amor-de-Deus!”. De novo, forcei-me contra minha própria natureza e saí.

A separação durou só dois meses e desde então eu e Márcio seguimos juntos. Tivemos nossos períodos de crise conjugal, mas o advento do coronavírus nos pegou em um momento de perfeito entendimento e sincronia. Não tivemos filhos (infelizmente!), por isso nossa rotina tem bem menos estresse do que a de casais que são pais, mas por isso mesmo é menos diversificada e interessante (digamos assim).

Durante a quarentena imposta pela pandemia, compartilhamos os medos de toda a população, principalmente por meus pais idosos, mas dividimos sem crises as tarefas domésticas e curtimos juntos, em casa, nossos hobbies preferidos e sabemos nos separar para o trabalho. Tudo somado, seguimos muito bem, obrigada, sem sermos invadidos por ansiedade ou tédio. Bem ao contrário.

Como cantou Lô Borges, “quem sabe isso quer dizer amor…”.

Os ‘sabe-tudo’ contra o coronavírus

Olha, eu já vinha mais ou menos conformada em ignorar a intransigência e agressividade dos haters e a acolher com bom humor a inconsistência dos terraplanistas, mas não estava preparada para me confrontar com o mesmo modus operandi deles na negação da ameaça mundial representada pela pandemia de coronavírus.

Foram dois episódios na mesma quarta-feira: o primeiro na casa de meus pais, para quem estou servindo de leva-e-traz de farmácia-mercado-e-afins para mantê-los abastecidos sem que precisem deixar o confinamento doméstico. Minha tia chega da rua para visitar e vai direto dar um beijo no rosto de minha mãe, sem que eu tivesse tempo de impedir.

“Que é isso, tia? Não sabe que tem que cumprimentar de longe agora?” – questiono.

Ela dá de ombros: “bobagem, filha. Se tiver que pegar a doença, pega, e se tiver que morrer, morre. Deus é quem decide”.

Respeito minha tia e sua religiosidade. Sei que duvida mais por ingenuidade do que por arrogância, influenciada por outros, por isso não me alonguei muito na ladainha ensaiada. Mas recusei seu beijo e, quando estava sozinha com meus pais, decretei: “Se a tia aparecer de novo,  vocês recusem beijo e abraço, hein!?”.

E fui para a Farmácia Especializada do Hospital das Clínicas, onde me aguardava uma longa fila na calçada só para pegar a senha de outra fila: a de retirada de medicamentos – no caso, para tratamento de um câncer em meu pai. Eu já padecia de desconforto sob um sol de 38 graus há uns 15 minutos quando ouvi esta pérola do homem atrás de mim:

“Uma bobagem esse pânico todo disseminado pela imprensa por causa do coronavírus. Aonde já se viu fechar tudo, mandar as pessoas pararem de fazer suas coisas? Querem ferrar com a economia de vez? Eu não paro mesmo. Se pegar, peguei. E aí? É uma gripe, gente!”.

Não me contive.

“Desculpe, meu senhor, mas não é só uma gripe, e esta doença pode matar a parcela mais frágil da população…” – ele nem me deixou continuar.

“Mata nada! Quem morreu até agora já estava doente, podia ter morrido de dengue ou qualquer outra coisa”, retrucou, já elevando o tom de voz e dando-se ares arrogantes.

“Não é possível. O senhor não lê jornais? Não assiste TV? Não deve ter pais idosos…”

“Assisto sim, mas acho tudo uma mentirada, um exagero dessa imprensa vendida. E meus pais vão muito bem, obrigada” – respondeu, me interrompendo de novo.

“E qual é a fonte de informações do senhor? Porque eu sou jornalista e posso garantir que não tem como a imprensa mentir nesta escala…”.

A esta altura ele já está falando sem parar, por cima da minha fala, para não me deixar ser ouvida: “Não preciso de fonte pra saber que isso tudo é uma palhaçada…”.

“E que interesse qualquer um teria em mentir sobre isso? Não faz sentido…” – eu já falo alto também.

“É tudo uma palhaçada! Quero que me mostrem o obituário do coronavírus…” – e eleva o dedo no ar, aponta pra minha cara… o que me enfurece!

“Então o senhor está me dizendo que, irresponsavelmente, não está se prevenindo e pode estar, neste momento, me contaminando e a todos à sua volta? – eu também já não controlava o volume da minha voz e da minha indignação.

“Ah, estou infectando você sim, tô infectando todo mundo aqui” – continuou, rindo em tom de chacota, como se a palhaça fosse eu.

“O senhor é um irresponsável!”.

Ele fica vermelho, faz cara de ódio, chama o segurança:

“Esta mulher está me incomodando!” – grita para o pobre, que olha para um, olha para outro, e pede calma baixinho, como se tivesse medo de apanhar.

“Irresponsável! Chama a polícia. Vamos ver pra quem eles vão dar razão.” – desafio.

E, inexplicavelmente (ou não), ele fica quieto.

Olho em torno para me desculpar e recebo olhares de sobrancelhas levantadas em rostos mascarados e sorrisinhos cúmplices de outros rostos sem máscara. Todos parecem dizer: “fazer o quê, minha filha?”

É… fazer o quê com pessoas que escolhem desacreditar informações de procedência comprovada e se baseiam em “absolutamente nada” para criar e disseminar teorias da conspiração que servem a seus próprios propósitos? E eu pensando que eleger um presidente ruim e defender que a terra é plana era o que de pior esse tipo de gente podia fazer! Mas, como diz uma grande amiga, “pra pior não tem limite”, e o pior da vez é ignorar, por pura opinião (!), a prevenção contra um vírus que pode matar a parcela mais indefesa da população.

Esses “sabe-tudo” ainda vão  colocar o mundo todo a perder.

No espelho, com minha idade

Antes de assumir meus cabelos grisalhos em definitivo, tentei por duas vezes deixá-los crescer sem tintura. Desistia sempre que o espelho me mostrava o inevitável: os fios brancos me envelhecem, sim!… por mais que o corte seja sofisticado, que eu use os xampus certos, que cuide para nunca amarelarem ou ficarem opacos e cinzas.

Só consegui após um acontecimento que mudou minha forma de me enxergar e ao mundo: um acidente de moto que me tirou de circulação por um ano inteiro – quebrei as duas pernas. Claro que não era uma prioridade sair para pintar o cabelo ou chamar alguém para fazê-lo em casa, quando apenas ser transferida da cama para a cadeira de rodas ou passar muito tempo sentada era torturante.

Durante o período de recuperação física, encontrei a coragem para me aceitar em frente ao espelho com a idade que tenho. É verdade que também ajudou a sensação de liberdade por não ter mais que me preocupar com retoques de raízes, reservar aquela grana para pagar a tintura no salão preferido (confiar no cabeleireiro é tu-do!) e uma hidratação caprichada nos fios ressentidos pelos maus-tratos da química.

Mas não me entendam mal: não sou, absolutamente, contra a tintura. Até porque eu mesma brinquei com as cores em minhas madeixas por 30 anos – comecei antes de aparecer o primeiro fio branco em minha cabeleira escura de neta de afro-brasileiro com índia (tenho um avô lituano também, mas suas características caucasianas ficaram todas para as minhas irmãs). Já as tive preto-azuladas, castanhas acobreadas, bicolores (vermelho na metade de baixo e preto na de cima), com mechas prateadas só em torno do rosto, luzes vermelhas no cabelo todo, californianas caramelo nas pontas… Enfim, nunca fui muito ortodoxa sobre isso e sempre encontrei cabeleireiros loucos o bastante para executarem minhas ideias.

Por incrível que possa parecer, porém, cultivei secretamente a vontade de assumir meus brancos por muito tempo, inspirada em minha mãe. Sempre achei lindos seus grisalhos ondulados, que quando longos caíam em cachos volumosos sobre seus ombros.

Mas se foi preciso coragem para enfrentar o espelho, vocês não imaginam o que foi encarar a “patrulha social”, exercida, inclusive, por pessoas queridas – às quais, aliás, dou a maior abertura para opinar e criticar qualquer coisa em mim, desde que eu não tenha que concordar sempre com elas.

Entre os questionamentos que ouvi de uma delas estava este, apresentado com voz e postura de indignação: “você, entre todas nós (da turma de faculdade) é a que ainda não tem rugas e pode passar por mais jovem de cabelos tingidos. Por que está optando por parecer mais velha? Se fosse ideologia, eu até entendia, mas por preguiça de pintar!”.

Foi quando me despertou a reflexão que proponho aqui, atiçada pelas seguintes questões: qual o problema de ostentar a idade que se tem? Juventude é um requisito indispensável à boa aparência? Por que principalmente nós, mulheres, temos vergonha de informar a idade? Mais: por que é deselegante perguntar a idade de uma mulher?

Ok. Tem a história do preconceito contra os mais velhos, que são tratados desde com indiferença até com desrespeito em muitos lugares, mas, primeiro: os errados são quem os destrata; segundo: fosse este o motivo, por que nos homens o grisalho é considerado charmosíssimo?

Não sou adepta do bordão “nunca me arrependo de nada” – fosse assim não teria aprendido com metade dos erros que cometi na vida -, mas não tenho vergonha de minha trajetória. Por que deveria ter do tempo que ela me custou?

Importante esclarecer também que não estou desistindo de minha vaidade. Quero, sim, sempre me sentir bonita e, na medida do possível, tornar-me uma idosa tão linda quanto acho minha mãe até hoje. E tanto não tenho preguiça de salão que agora comecei a brincar com os meus brancos. Acabo de tonalizá-los na cor azul (sai em cinco lavadas, mas é divertido enquanto dura!).

Ainda não recebi muitas avaliações sobre isso, mas pelo menos uma pessoa está amando a brincadeira: EU!

Por ora, é suficiente.

Diários do SUS: dia 3

Em seu terceiro dia de espera por internação, na sala de Observação da Santa Casa de Ribeirão Preto, mamãe mantém a candura de sempre. A expressão é de cansaço, e o humor, deprimido, por mais que ela tente disfarçar. Mas ela nunca reclama de nada e se interessa genuinamente por todos os outros pacientes à sua volta.

Quando cheguei para mais uma jornada de 12 horas como sua acompanhante, havia mais uma maca com paciente na mesma baia que a dela – aliás, como em todas as outras, que deveriam abrigar apenas uma cama.

Aprendi nesses dias que vagas estão entre as inúmeras carências do serviço público de saúde ribeirão-pretano. Falta de tudo. De itens básicos, como roupas de cama e banho para todos, até os mais macro – aparelhamento tecnológico, insumos, mão-de-obra com e sem qualificação, etc. Eles existem, mas não o suficiente

Em meus 28 anos como jornalista, fiz e editei muitas reportagens sobre as agruras por que passam os usuários do SUS, mas nada como senti-las na pele. 

Não cabem nos espaços e tempos limitados dos jornais impressos e televisivos todos os detalhes denotativos do abandono que essas carências nos fazem sentir. Por exemplo, no primeiro dia de mamãe por aqui, levou horas para eu conseguir o primeiro lençol para cobri-la; mais 1h para ela herdar um cobertor de um leito liberado e dois dias para lhe sobrar um travesseiro.

Fraldas geriátricas, toalha, medicamentos usuais e sabonete só trazendo de casa, e melhor não esperar por um enfermeiro que ajude a trocar fralda, dar banho ou levar seu paciente ao banheiro. Pode levar horas ou nem acontecer.

Melhor também ficar atenta à chegada dos médicos para, se for caso, educadamente lembrá-lo de ver seu paciente, pois são tantos, em tão pouco espaço, que às vezes algum “passa batido “. O mesmo para o pessoal da Enfermagem, que precisa auscultar e fazer medições regulares dos pacientes. Às vezes, simplesmente não dá tempo de fazê-lo em todos dentro de um mesmo turno.

Mais importante de tudo é lembrar que nada é culpa de qualquer profissional dali. Todos fazem o que podem. De verdade. Por isso tento não gritar com alguém quando uma dessas tantas carências eleva minha revolta a níveis  insuportáveis. Até porque a vida e o “conforto” de mamãe estão nas mãos desses profissionais.

Em última análise, somos todos – acompanhantes, pacientes, médicos e enfermeiros – humanos, portanto suscetíveis a reações emocionais como qualquer outro. Mas ninguém quer um profissional de saúde de má vontade ou extremamente estressado cuidando de sua própria mãe.

Minha mãe tem fome!

Minha mãe tem fome. Não só de comida.

São 9h da manhã de um domingo de abril. Eu a acompanho na sala de observação da Santa Casa de Ribeirão Preto desde as 8h, quando rendi minha irmã, que passou a madrugada toda com ela. Antes, das 18h às 23h de sábado, foi minha outra irmã quem a acompanhou na longa espera por atendimento na UPA, que de Pronto Atendimento – como reza sua sigla – não tem nada.

Mamãe chegou à unidade pouco antes das 19h do sábado sentindo sintomas que acreditamos ser de um novo AVC (já teve três, conhece bem). Na Triagem, foi colocada como atendimento prioritário e mesmo assim só foi chamada 3h30 depois.

Uma jovem e educada médica desconfia de um micro derrame e dá encaminhamento para o hospital, onde uma investigação mais apurada deve ser conduzida. O Serviço de Regulação (que administra as vagas em hospitais) informa que um leito de SUS só vagaria no dia seguinte e mamãe passa a noite numa maca da UPA, com minha irmã insone ao lado.

Quatorze horas depois, mamãe só se queixa de fome. Não pode comer antes de o neurologista do plantão avaliá-la… e ele não chega! Ela está medicada só para as dores – de cabeça e musculares, pelas quatro quedas sofridas – e sequer temos a confirmação de seu diagnóstico.

Em minha cabeça ecoa, como uma sirene, tudo o que já li sobre o custo da espera pelo devido socorro a um paciente de AVC. Desde ontem mamãe não sente o lado esquerdo inteiro de seu corpo. Já tinha a perna e braço direitos “bobos” – sequela de dois AVC anteriores, sofridos dois anos atrás, em um mesmo dia (o primeiro, há dez, foi isquêmico, sem danos permanentes). Ainda tem que lidar com o jejum prolongado – sua última alimentação foi um lanche de pão com frios que levei à UPA 13 horas antes.

Minha mãe tem fome de comida e de cuidados. Meu impulso é gritar, cobrar médico, fazer escândalo, mas a sala cheia de outros pacientes na mesma situação me contém – eu só os incomodaria, e estressaria as equipes de enfermagem, que não têm culpa da falta de estrutura com que trabalham. 

Mamãe tem frio. Só um edredom fino que minha irmã trouxe de casa a cobre. Preciso pedir que um enfermeiro cace um lençol limpo. Mais um cobertor só quando vagar algum leito (1h depois surge um). Uma enfermeira me instrui a comprar fraldas geriátricas para ela, pois o hospital não fornece.

Obtenho permissão para mamãe  ingerir  uma banana que trago na bolsa. Às 10h30, a Copa serve uma sopinha a todos os pacientes, mas não para ela (sem médico, sem comida), que sofre calada sentindo o cheirinho de comida no ar. 

Reflito que a fome é só mais uma privação com a qual ela tem tido que lidar em sua velhice, que pode ficar ainda mais abandonada com a Reforma da Previdência que vem por aí – discute-se diminuir (mais!) o valor do benefício mínimo dos aposentados mais pobres e suspender o adicional para beneficiários que comprovadamente demandam cuidados em tempo integral.

Mamãe e meu pai – que trata um câncer de próstata com metástases – já não conseguem pagar todos os remédios de que precisam com suas aposentadorias. Mesmo separados, têm que viver na mesma casa com minha irmã mais velha para economizar gastos, inclusive com cuidadores – um deve “olhar” o outro enquanto as filhas trabalham e, eventualmente, soar o alarme para uma de nós acudir em caso de ocorrência de saúde.

A cada dia ambos ficam mais debilitados e temo que o momento de necessitarem cuidados mais intensivos tenha chegado antes de termos um plano B. O medo do que virá faz a gastrite acordar em meu estômago e, na falta de calmante melhor, aciono minha principal válvula de escape: a escrita.

10h43 e nada de médico.

12h: minha mãe começa a chorar, me desintegrando toda por dentro. Não é só de fome… “É de abandono, filha”.

Não tem jeito… Vou ter que gritar com alguém… 

A SAGA CONTINUA…

Após questionamentos indignados, seguidos de uma crise de choro, consigo que localizem o neuro do plantão para avaliar minha mãe. Um médico “menino”, de seus 20 e poucos anos, gasta seu sotaque mineiro justificando-se pra mim, que, soluçante, devo formar um quadro assustador. “Não se preocupe comigo, dr. Só avalie minha mãe, por favor!”.

Ele avalia. Diz que pedirá uma tomografia, por isso o jejum precisa continuar. Pede mais uns 40 minutos de paciência.

Só 1h30 depois o enfermeiro vem buscar minha mãe para o exame, mas desiste ao saber que, antes, ela precisa ter a fralda trocada. Promete voltar para fazê-lo e passa outra paciente à frente dela na fila do exame.

Às 16h30 eu desisto de esperar e decido eu mesma trocar a fralda de mamãe, que a esta altura deita sobre lençóis molhados. Um enfermeiro vem ajudar. Questiono a demora em levá-la pra fazer a tomografia e descubro que ela não foi ainda por falta de maca.

17h: a maca aparece. Eu a acompanho à tomografia. Agora dependemos de o médico ter tempo de avaliar o exame para autorizar que ela se alimente, o que só ocorre mais de 1h depois – perto de completar 24h de jejum quase completo.

18h: O resultado sai. É AVC mesmo, diz o médico, que recomenda uma ressonância para investigar o tamanho do dano. Ele explica que só será possível fazê-la com internação, e para internar tem que haver leito vago em algum quarto. Esperamos.

23h: ela pede pra ir ao banheiro. Eu a levo sozinha, colocando-a e tirando-a da cadeira de banho – desisto de esperar por um enfermeiro.

Percebo que vaza sangue de seu equipo (peça do equipamento que injeta soro pela veia) e peço que investiguem. “Está com defeito. Vieram vários com defeito”, diz uma enfermeira, que desliga o soro e promete mandar alguém substituir a peça. Ninguém aparece por TRÊS HORAS, apesar d’eu cobrar a cada 30 minutos.

Mamãe continua com frio, mas não tem mais um cobertor. O vazamento do equipo pintassilga sangue por seus lençol e camisola, que não podem ser trocados. “Não tem”, é a resposta padrão para tudo por aqui.

3h da madrugada de segunda-feira: finalmente um enfermeiro de meia idade – muito gentil por sinal – troca o equipo de mamãe, fazendo o soro voltar a correr por suas veias. Também encontra uma nova camisola e ajuda a ajustar a cama de uma forma que a deixe mais confortável e segura (Deus o abençoe!).

4h: mamãe dorme (graças a Deus e ao Zolpidem), mas continuamos sem quarto, sem internação, sem ressonância e sem previsão de nada até de manhã.

A saga vai continuar…

 

Contrição

Em meu nome e de todo o povo brasileiro, peço desculpas por nosso presidente ter autorizado a comemoração de um golpe militar que culminou na privação de liberdades coletivas e individuais, na tortura e morte de milhares de brasileiros pela máquina repressora da Ditadura. Apesar de não ter votado nele, respeito e prezo a democracia que permitiu sua eleição e rezo para que ela sobreviva ao retrocesso que tenta promover.

Humildemente peço desculpas a todas as pessoas que tiveram seu corpo e mente violados durante o regime repressor e sobreviveram para assistir à memória de seus sofrimentos ser aviltada. Estendo-as aos filhos, filhas, pais, mães, maridos e esposas dos que não sobreviveram – muitos dos quais sequer tiveram um enterro digno, porque seus corpos nunca foram encontrados.

Desculpas a todos os opositores do regime que amargaram exílios forçados, expatriados de seus afetos.

Peço perdão aos historiadores que estão tendo seus minuciosos e sérios trabalhos de pesquisa e documentação desonrados pela negação dos fatos que comprovam. E por serem estes trabalhos alvo de chacota e descrédito dos seguidores desse presidente peço renovadas desculpas.

Solidariedade e desculpas a todos os colegas jornalistas que foram calados pela censura do regime, muitos dos quais também acabaram presos ou mortos.

Peço perdão a todos os artistas que tiveram suas energias criadoras asfixiadas pelas proibições de músicas, novelas, peças de teatros, livros e todo o tipo de veículo cultural que, ao longo da história, ajudaram a humanidade a conhecer-se e, consequentemente, evoluir.

Encarecidas desculpas aos professores que teimaram em cumprir suas sagradas missões de informar e formar jovens mentes em ambientes hostis e amordaçados por censura ideológica durante os anos de chumbo. ELES NÃO TÊM CULPA por muitos de nós terem crescido ignorantes da realidade sombria que nos rodeava a ponto de hoje aplaudirem a celebração do golpe.

Envergonhadas desculpas à geração de crianças que corre o risco de também crescer acreditando que a Ditadura Militar foi boa para o País e deve voltar.

Desculpo-me também com os militares de hoje que não aprovam as práticas repressivas de seus antecessores. Imagino como devem se constranger por tal celebração fazer muitos de nós enxergarem em suas fardas uma ameaça e a eles como inimigos.

E se esta contrição me trouxer, futuramente, consequências iguais às que outros antes de mim sofreram por não se calarem, peço antecipadas desculpas aos amigos e familiares que se condoerem por mim.

Por fim, peço solidárias desculpas aos que odeiam, pois minha revolta já me colocou onde estão agora – é um péssimo lugar para estar! -, contribuindo para a energia funesta em que todos vibramos neste momento.

E que Deus tenha piedade de todos nós!

 

Questões do luto

Há várias definições para luto no dicionário. Nenhuma descreve ou prepara para os sentimentos pós morte-velório-sepultamento.

Após testemunhar três perdas consecutivas de meu parceiro de vida – seu pai de câncer, em 2016; o irmão, de septicemia decorrente de diabetes, em 2017; e a mãe, também de sepse pós-cirurgia, no apagar das luzes de 2018 – sei alguma coisa sobre isso.

Quando a vida deve retomar seu curso é que a maior tristeza instala-se com todo o seu peso sobre o enlutado. É preciso remexer os pertences, percorrer os lugares e afetos repletos da “presença” de quem se foi. As lembranças e histórias que cada objeto, local ou pessoa evocam… até então ternas, felizes, acolhedoras… tornam-se opressoras. Parecem gritar a nova ausência.

As três perdas de Márcio foram doloridas, mas a do pai foi amortecida pelo luto solidário do irmão e a consciência de que era preciso cuidar da mãe. Logo em seguida, meu acidente de moto meio que o distraiu das tristezas (com ambas as pernas fraturadas, fiquei meses dependente dele para tudo).

A perda do irmão foi, de longe, a mais difícil. Repentina, implacável, trazendo no bojo muita culpa por não termos notado o quão necessitado de atenção estava o Nando. Mas a força espiritual de dona Jovelina, a mãe, também amorteceu as tristezas. E a evidência de que, mais do que nunca, ela demandaria companhia e atenção constantes distraiu-lhe, mais uma vez, das grandes dores. Ele deixava para chorar comigo, não só para poupar a mãe, mas para não envergonhar-se ante sua grande força.

Agora dona Jovelina também se foi. Os primos, tios e amigos acolhem-no com carinho e afeto incondicionais, mas sempre chega a hora de retomar o tal “curso da vida” para todo mundo – aliás, como deve ser.

É quando o enlutado sente-se separado do resto do mundo por uma divisória invisível. Já escrevi sobre isso: por mais que os afetos vivos entendam e já tenham passado pelo mesmo, é solitária a dor do luto em cada um.

Daí que, mesmo juntos, vivemos, eu e Márcio, lutos diferentes. O meu é temperado de impotência e compaixão. O dele pesado de saudades irremediáveis. Não há palavra que minore, abraço que atenue, afeto que substitua a dor de ausências inexoráveis.

Na casa de dona Jô, cada parede reclama sua “presença/ausência”. É dolorido encarar a grande interrogação que cada objeto e cômodo parece nos esfregar na cara. Para mim é difícil manusear os utensílios domésticos impecavelmente limpos e ariados, que ela não deixava ninguém mais orquestrar (para sua noção muito particular de hospitalidade, era impensável deixar uma visita ter qualquer trabalho em sua casa, mesmo tratando-se da companheira de 21 anos do filho).

Pergunto-me como ela aguentava o calor de fornalha da cozinha mal arejada. Aliás, faltam correntes de ar por toda a grande e velha casa, o que parece intensificar a sensação de sufocamento que vai no íntimo de Márcio.

De sua tristeza emergem, agora, muitas e novas perguntas: Por que a partida dos três tão perto? O que explica este plano de Deus? Estariam todos juntos? Estão todos bem?

Atrás de alguma resposta ou consolo, fomos assistir a palestra em um Centro Espírita. Foi melhor para mim do que para ele, pois as questões de seu luto permanecem. Também fazem parte desta fase pós-morte-velório-sepultamento.

Opino que o melhor remédio é “sair para o mundo”, esforçarmo-nos para retomarmos também o curso de nossas vidas, atualmente em um limbo cinza por conta do desemprego de ambos (mais esta!). Ele aquiesce.

Hoje arrumou-se, penteou o escasso cabelo recém-cortado e perfumou-se. Vestiu o sorriso de sempre – para todos os efeitos e aparências, é um exemplo de resignação – e saiu tratar de providências práticas: certidões, inventário, possibilidade de renda…

Amanhã começamos a remexer guarda-roupas e armários.

Que Deus nos ajude!

Sofrer ensina… aos dispostos

O sofrimento ensina aos dispostos.

Só a eles…

Cheguei a esta conclusão refletindo sobre a espiral de violência que acomete nosso país e, em menor grau – mas não menos preocupante -, os Estados Unidos, com seus episódios de chacina de inocentes por atiradores civis.

A violência se retroalimenta quando as pessoas tentam sobreviver à dor devolvendo à sociedade o mesmo ódio de que são vítimas – adolescentes deslocados atiram em seus bullyers, policiais disparam a esmo em favelas onde seus colegas foram assassinados, criminosos pilham e exterminam a sociedade que os exclui…

De outro lado, mães como Lucinha Araújo e a ribeirão-pretana Marília Castelo Branco semeiam o bem entre outras famílias marcadas pelo sofrimento – a primeira criou a fundação Viva Cazuza, dedicada a atender crianças com a doença que matou seu filho, e a segunda a Síndrome do Amor, para dar suporte a famílias com casos de doenças raras, como a que ceifou a vida de seu Thales.

São exemplos de pessoas dispostas a refletir e a aprender com as próprias dores. Como recompensa, colhem gratidão e amor (o que sentem e o que recebem de volta), que lhes servem como apoios “mágicos”- chamemos assim por ora – para seguirem em frente.

Quem perde entes queridos ou enfrenta algum dos males deste século (depressão, pânico e afins) sabe como é difícil viver com essas dores. Mal comparando, é como tentar caminhar carregando nas costas um fardo mais pesado que o próprio peso.

Sobreviver a elas usando o ódio como apoio é a decisão instintiva, inerente a todas as espécies, por isso mais fácil. No entanto, torna o sofrimento inútil e fatal para a raça humana, pois o multiplica e espalha a dor, como uma epidemia a destruir vidas e desnortear famílias, instalando o caos.

Usar como apoio o amor ao próximo contraria este impulso primitivo, por isso demanda disposição e esforço.

O sofrimento só ensina quando aceitamos a oportunidade que ele abre à reflexão e ao aprendizado através do amor. Ouso dizer que é para aprender isso que vivemos neste mundo tão desigual e cheio de injustiças e ódio. Infelizmente, poucos de nós consegue.