“Hanami – Cerejeiras em flor” tem produção franco-alemã, direção da francesa Doris Dorrie, elenco quase todo alemão, mas alma japonesa. Porque é característica desta nação oriental a forma delicada, sutil, até suave com que sentimentos de perda e saudades são sugeridos em cenas morosas, cheias de gestos simbólicos.
A história começa com Trudi, uma dona de casa alemã com ascendência japonesa, recebendo sozinha a notícia de que seu marido, Rudi, um pacato funcionário público, sofre de uma doença terminal. Enquanto decide se, como e quando conta isso a ele, ela o convence a fazerem uma viagem a Berlim para verem dois dos três filhos.
O encontro fornece o contraponto da alma alemã, com seus hábitos familiares frios e distantes, mas é a porção japonesa de Trudi, com seus gestos econômicos de maternal ternura, que domina as situações.
Quando Rudi consente em visitarem por mais uma vez o litoral, a morte chega, mas irônica, trapaceando.
Começa então a parte mais emocionante da história, com a viuvez precipitando uma viagem sentimental a Tóquio, onde mora o filho mais novo do casal. Assistimos enlevados às formas simbólicas encontradas pelo “cônjuge que ficou” de pagar a promessa da viagem nunca feita ao que se foi, ou de mostrar a alguém que não está mais no mundo o espetáculo das cerejeiras em flor, celebradas no ritual do Hanami.
Em uma praça da metrópole, uma japonesinha de 18 anos manifesta as saudades da mãe falecida dançando o butoh, a arte a que Rudi impediu Trudi de se dedicar por puro preconceito. A jovem Yu ensina que o butoh é a dança das sombras, que fala a linguagem da alma.
Estabelece-se então um elo entre dois extremos – o velho e o novo, o rude e o delicado – um cuidando do outro a seu modo, entendendo-se por meio de suas perdas.
É Yu quem conduz a viagem ao destino dos sonhos de Trudi, o Monte Fuji, que se esconde tímido atrás de nuvens durante dias até mostrar-se para uma dança final do butoh. Uma dança de amor, de saudades, de pura ternura…
De derreter o coração.